terça-feira, 6 de janeiro de 2015

METIDO A BONZINHO


            Você já reparou que algumas pessoas passam por boazinhas, mas no fundo elas são mesmo é “metidas a boazinhas”? Talvez você conheça algumas que são assim.

            Tenho observado dois tipos de pessoas boazinhas: As totalmente carentes e as que têm necessidade de aprovação, que embora carreguem psicologicamente um aprendizado, acabam se transformando, também, em pessoas carentes.

            As que fazem o tipo metido a bonzinho adoram fingir que são evoluídas espiritualmente, educadas sob a égide de uma sociedade tradicionalista e demonstram humildade que não tem. Estão sempre teatralizando e imitando estilos que não condizem com os seus e, por mais que sejam alertadas disso, elas continuam carregando, na mala da ilusão, um tablado portátil para montar seu teatro onde quiserem.

            Quando você fala algo mais incisivamente ou assume uma postura mais enérgica em relação a alguém, o metido a bonzinho logo dispara sua crítica: “Você não devia ter falado desse jeito com ele, você foi muito grosseiro, agressivo. Está faltando com o respeito com o seu semelhante. Você está julgando, faltando com a caridade”, e outras coisas do gênero.

            Se existe uma brechinha assim que seja de alguém dar sua opinião,  lá está o metido a bonzinho querendo passar a falsa impressão de que ele está em nível mais evoluído que o seu, não importando o quanto a sua opinião é distorcida. Ele aparece invariavelmente sempre com um ‘palavriado’ doce, gestos suaves e sorriso de Mona Lisa tentando mascarar a falta de respeito que tem com os entes da própria família. É um tremendo hipócrita que teoriza uma coisa e pratica outra completamente diferente, como se máscara fosse sinônimo de evolução.

Por outro lado, a pessoa que busca aprovação, também é um tremendo mascarado. A nossa cultura ensina que buscar aprovação é um padrão de vida a ser seguido, pois desde cedo a nossa história começa nas primeiras mensagens que recebemos da família, onde o certo é ter um comportamento exemplar e não pensar ou agir sem primeiro ter a aprovação dos nossos pais. As opiniões tendem sempre a reforçar a dependência da criança e a busca de aprovação, em vez de ensiná-la a confiar em seu próprio julgamento. Ela passa a infância inteira perguntando o que vai comer e vestir e a mãe concorda que ele pode usar o que quiser (menos camisa de bolinhas com calça listrada), que o quarto é seu (mas não pode ter bagunça) ou logo será rechaçado. O filho cresce e a mãe não entende porque o filho ainda continua perguntando o que vestir e comer e ainda o critica cobrando que já é hora de decidir por si mesmo.

Se não bastasse a avalanche de contradições sobre educação imposta pelos pais, logo vem a escola, a igreja e a mídia empurrando goela a baixo toda espécie de cobrança, incluindo o Governo, e depois discutem sobre um adolescente que ainda não sabe que carreira seguir, que não assumiu as rédeas da própria vida.

Nessa esteira de pensamento, a pessoa cresce e se transforma em um bonzinho porque tem medo da rejeição, de não ser amado e, com medo de ficar sozinho, não consegue viver em paz se não atender o outro. O medo de ser rejeitado, o medo da solidão, de perder o amor das pessoas faz do bonzinho um tremendo manipulador, ou seja, ele não é tão bonzinho assim, pois o sacrifício que ele faz, é guardado até o momento que espera receber a devida retribuição, que se não a tem, ele cobra, através da manipulação, despertando nelas a sensação de que precisam sempre dele. Obviamente que cobrar a atenção de volta é o que está por trás de tanta bondade.

O bonzinho tem sempre autoestima baixa, por isso ele é sempre um bom ouvinte, concorda com tudo, não questiona, não desafia, não luta, não desabafa, não se impõe só para ser visto como “gente boa” e vai lutar para que essa visão a seu respeito seja mantida. Tudo o que ele realmente quer é envolver as pessoas, sem saber que está cavando seu próprio buraco, pois agindo assim, ele sufoca as pessoas e coloca uma grande barreira em vez de ampliar o potencial de intimidade nos relacionamentos.

Se você é um bonzinho, fique alerta e comece a encarar a desaprovação sob outro aspecto. Em vez de ficar magoado por algo que lhe disseram ou mudar imediatamente de opinião para ser elogiado, sempre que houver algum tipo de desaprovação relativamente a tudo que você sente, pensa, diz ou faz, saiba que é o caminho para sair do buraco que cavou.

Por mais que esconda, você não poderá escapar da desaprovação. Haverá sempre uma opinião contrária à sua, um ponto de vista contrário ao seu. Por mais que você se dê mal, com os anjos e demônios dizendo que você estava certo, não fará a menor diferença.

Quer saber se você é bonzinho e está em busca de aprovação? Veja se você se enquadra em um desses itens:

  • Mudar de opinião quando alguém demonstra sinal de desaprovação;
  • Não é capaz de dizer não para evitar constrangimento para outra pessoa;
  • Vive pedindo desculpas a toda hora, por qualquer motivo;
  • Quer sempre impressionar os outros com algo que finge saber;
  • Faz de tudo para ser elogiado e depois sente-se mal porque os elogios não vieram;
  • Sente-se melindrado quando alguém discorda de você;
  • Sente-se insultado quando alguém reage contrário à sua opinião;
  • Evita discordar para que as pessoas gostem de você;
  • Compra, mesmo não querendo, só porque o vendedor foi hábil e educado em mostrar 25 pares de sapatos; entre outros.

A questão é compreender que o mais importante não é ser bonzinho (fazendo o seu melhor, o seu possível), mas ser apenas bom (fazendo o que tem que ser feito). Discordar, desafiar, questionar, reagir, falar o que pensa com educação não vai causar nenhum constrangimento ao mundo. Pelo contrário, quando você aprende a decidir por si mesmo, o mundo será melhor porque alguém realmente decidiu ser e agir como é de verdade.

E você? É bonzinho?


Getúlio Gomes

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