Você já reparou que algumas pessoas passam por boazinhas,
mas no fundo elas são mesmo é “metidas a boazinhas”? Talvez você conheça
algumas que são assim.
Tenho observado dois tipos de pessoas boazinhas: As
totalmente carentes e as que têm necessidade de aprovação, que embora carreguem
psicologicamente um aprendizado, acabam se transformando, também, em pessoas
carentes.
As que fazem o tipo metido a bonzinho adoram fingir que
são evoluídas espiritualmente, educadas sob a égide de uma sociedade
tradicionalista e demonstram humildade que não tem. Estão sempre teatralizando
e imitando estilos que não condizem com os seus e, por mais que sejam alertadas
disso, elas continuam carregando, na mala da ilusão, um tablado portátil para
montar seu teatro onde quiserem.
Quando você fala algo mais incisivamente ou assume uma
postura mais enérgica em relação a alguém, o metido a bonzinho logo dispara sua
crítica: “Você não devia ter falado desse jeito com ele, você foi muito
grosseiro, agressivo. Está faltando com o respeito com o seu semelhante. Você
está julgando, faltando com a caridade”, e outras coisas do gênero.
Se existe uma brechinha assim que seja de alguém dar sua
opinião, lá está o metido a bonzinho
querendo passar a falsa impressão de que ele está em nível mais evoluído que o
seu, não importando o quanto a sua opinião é distorcida. Ele aparece invariavelmente
sempre com um ‘palavriado’ doce, gestos suaves e sorriso de Mona Lisa tentando
mascarar a falta de respeito que tem com os entes da própria família. É um
tremendo hipócrita que teoriza uma coisa e pratica outra completamente
diferente, como se máscara fosse sinônimo de evolução.
Por
outro lado, a pessoa que busca aprovação, também é um tremendo mascarado. A
nossa cultura ensina que buscar aprovação é um padrão de vida a ser seguido,
pois desde cedo a nossa história começa nas primeiras mensagens que recebemos
da família, onde o certo é ter um comportamento exemplar e não pensar ou agir
sem primeiro ter a aprovação dos nossos pais. As opiniões tendem sempre a
reforçar a dependência da criança e a busca de aprovação, em vez de ensiná-la a
confiar em seu próprio julgamento. Ela passa a infância inteira perguntando o
que vai comer e vestir e a mãe concorda que ele pode usar o que quiser (menos
camisa de bolinhas com calça listrada), que o quarto é seu (mas não pode ter
bagunça) ou logo será rechaçado. O filho cresce e a mãe não entende porque o
filho ainda continua perguntando o que vestir e comer e ainda o critica
cobrando que já é hora de decidir por si mesmo.
Se
não bastasse a avalanche de contradições sobre educação imposta pelos pais,
logo vem a escola, a igreja e a mídia empurrando goela a baixo toda espécie de
cobrança, incluindo o Governo, e depois discutem sobre um adolescente que ainda
não sabe que carreira seguir, que não assumiu as rédeas da própria vida.
Nessa
esteira de pensamento, a pessoa cresce e se transforma em um bonzinho porque
tem medo da rejeição, de não ser amado e, com medo de ficar sozinho, não
consegue viver em paz se não atender o outro. O medo de ser rejeitado, o medo
da solidão, de perder o amor das pessoas faz do bonzinho um tremendo
manipulador, ou seja, ele não é tão bonzinho assim, pois o sacrifício que ele
faz, é guardado até o momento que espera receber a devida retribuição, que se não
a tem, ele cobra, através da manipulação, despertando nelas a sensação de que
precisam sempre dele. Obviamente que cobrar a atenção de volta é o que está por
trás de tanta bondade.
O
bonzinho tem sempre autoestima baixa, por isso ele é sempre um bom ouvinte,
concorda com tudo, não questiona, não desafia, não luta, não desabafa, não se
impõe só para ser visto como “gente boa” e vai lutar para que essa visão a seu
respeito seja mantida. Tudo o que ele realmente quer é envolver as pessoas, sem
saber que está cavando seu próprio buraco, pois agindo assim, ele sufoca as
pessoas e coloca uma grande barreira em vez de ampliar o potencial de
intimidade nos relacionamentos.
Se
você é um bonzinho, fique alerta e comece a encarar a desaprovação sob outro
aspecto. Em vez de ficar magoado por algo que lhe disseram ou mudar
imediatamente de opinião para ser elogiado, sempre que houver algum tipo de
desaprovação relativamente a tudo que você sente, pensa, diz ou faz, saiba que
é o caminho para sair do buraco que cavou.
Por
mais que esconda, você não poderá escapar da desaprovação. Haverá sempre uma
opinião contrária à sua, um ponto de vista contrário ao seu. Por mais que você
se dê mal, com os anjos e demônios dizendo que você estava certo, não fará a
menor diferença.
Quer
saber se você é bonzinho e está em busca de aprovação? Veja se você se enquadra
em um desses itens:
- Mudar de opinião quando alguém
demonstra sinal de desaprovação;
- Não é capaz de dizer não para
evitar constrangimento para outra pessoa;
- Vive pedindo desculpas a toda hora,
por qualquer motivo;
- Quer sempre impressionar os outros
com algo que finge saber;
- Faz de tudo para ser elogiado e
depois sente-se mal porque os elogios não vieram;
- Sente-se melindrado quando alguém
discorda de você;
- Sente-se insultado quando alguém
reage contrário à sua opinião;
- Evita discordar para que as pessoas
gostem de você;
- Compra, mesmo não querendo, só
porque o vendedor foi hábil e educado em mostrar 25 pares de sapatos;
entre outros.
A
questão é compreender que o mais importante não é ser bonzinho (fazendo o seu
melhor, o seu possível), mas ser apenas bom (fazendo o que tem que ser feito).
Discordar, desafiar, questionar, reagir, falar o que pensa com educação não vai
causar nenhum constrangimento ao mundo. Pelo contrário, quando você aprende a
decidir por si mesmo, o mundo será melhor porque alguém realmente decidiu ser e
agir como é de verdade.
E
você? É bonzinho?
Getúlio Gomes